Publicação fixa: Argumentos lógicos X tratados teológicos

Meus textos questionando o sistema religioso e as mentiras do cristianismo são sempre com argumentos de raciocínio lógico, porque para mim vale o que está escrito sem interpretações humanas, sem oráculos para traduzir o texto... Continue lendo.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Dica de leitura: 'Yeshua ou Paulo: Quem é o Messias?'

Up. Publicado originalmente em 28/abr/2012
Da série gostaria de ter escrito. É isso que sempre digo, e ele disse tudo e mais um pouco. Perfeito.

Yeshua ou Paulo: Quem é o Messias? 

I – Introdução 

Dentre os que crêem nas Escrituras (ou dizem crer) existe uma classe muito singular de pessoas: os cruzados da verdade absoluta. Infelizmente, é algo que chega muitas vezes a ser incentivado no meio evangélico. Pelo menos, há uma evolução: Os cruzados cibernéticos da verdade absoluta não se utilizam mais da espada para fazerem suas ameaças, mas sim de e-mails grosseiros e grotescos, intrusões indesejadas no espaço alheio, etc. O que antes era a ameaça da espada, hoje é a ameaça do inferno. Menos mal. Mas, ou você crê na “verdade” (e por verdade leia-se: a interpretação deles das Escrituras), ou está fadado ao lago de fogo.

Sempre recebemos esse tipo de e-mail e mensagens, e geralmente nada mais fazemos do que simplesmente ler a primeira linha e jogar no lixo ou no filtro de spam, porque temos coisas mais importantes a fazer do que nos ocuparmos de tais tolices.

Porém, esses dias recebi um e-mail desses que tocou num ponto que gostaria de abordar aqui. O e-mail basicamente nos criticava por defendermos a Torá (até aí, nenhuma novidade), e dizia que nós cometemos os mesmos erros dos primeiros emissários de Yeshua, que não teriam entendido a Sua mensagem, e que por isso foi preciso que “Paulo esclarecesse o evangelho.”

II – Paulo, Paulo Paulo… mas e Yeshua?

Já perdi as contas de quantas vezes ouvi isso, de diversas formas: “Vocês não entendem que Paulo abriu pros gentios!” “Vocês precisam ler Gálatas!” “Paulo isso, Paulo aquilo, Paulo, Paulo, Paulo…”

É claro que se apela a “Paulo”! Tire das Escrituras as cartas de Sha’ul (Paulo), e não sobra absolutamente nada em quê os que se opõem à Torá de YHWH possam se apoiar para defenderem sua causa. Não que sejam as cartas de Sha’ul (Paulo) sejam de fato contra a Torá – falta muitas vezes a tais grupos a compreensão da diferença entre Torá de YHWH e Lei Judaica. Mas, mesmo assim, sem Sha’ul (Paulo), nada sobra. Porque as demais Escrituras são muito claras quanto à obrigação do servo de YHWH de servir à Sua Torá.

Nas poucas vezes em que se deu ao trabalho de dizer algo sobre isso, Yeshua afirmou:

“Não penseis que vim abolir a Torá ou os profetas; não vim para abolir, mas para torná-los plenos. Amen! Por que vos digo que, até que o céu e a terra passem, de modo nenhum passará da Torá um só Yud ou um só traço, até que tudo seja cumprido. Qualquer, pois, que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no Reino dos Céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no Reino dos Céus.” (Matitiyahu/Mateus 5:17-19)

Ele criticou a forma como o espírito da coisa, chamemos assim, era distorcido:

“Ai de vós, sof’rim e p’rushim que são hipócritas! porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, e tendes omitido as coisas mais pesadas na Torá: os juízos, a misericórdia e a fé; estas coisas, porém, devíeis fazer, sem omitir aquelas.” (Matitiyahu/Mateus 23:23)

“…é lícito fazer bem nos Shabatot.” (Matitiyahu/Mateus 12/12)

Ele criticou acréscimos da Lei Judaica à revelação da Torá:

“E assim por causa das vossos acréscimos invalidastes o mandamento de Elohim. Hipócritas! bem profetizou Yeshayahu a vosso respeito, dizendo: Este povo honra-me com os lábios; o seu coração, porém, está longe de mim. Mas em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homem.” (Matitiyahu/Mateus 15:6-9)

Observe que nessa crítica Yeshua também inclui o invalidar a Torá. Invalidar é tornar algo não-válido, ou nulo. Em outras palavras, seguir preceitos de homens e abandonar as Escrituras.

Seria cômica, se não fosse trágica, a tentativa de alguns de afirmarem, por exemplo, que Yeshua descumpriu o Shabat ou, ao falar contra a lavagem de mãos, invalidou a Torá de YHWH. Além do profundo desconhecimento do que é a Torá e o que é a Lei Judaica, e além de fazer de Yeshua um mentiroso (pois Ele disse que veio cumprir a Torá), essa visão acaba por cair em contradição – pois se Yeshua não cumpriu a Torá, como poderia ser Ele o Messias?

Mas não é isso que vemos. Vemos Yeshua zeloso com a Torá, preocupado em revelar a pureza do que YHWH deixou de instrução para o Seu povo, esclarecendo que Ele não veio abolir coisa alguma, e ainda condenando a transgressão à Torá!

III – Quem é o Messias: Yeshua ou Paulo?

É por isso que os seus discípulos “não entenderam que a Lei foi abolida.” Como poderiam ter entendido algo que Yeshua nunca deixou revelado, nunca fez, nem ensinou?

Quem entra em cena então? “Paulo!” – Claro, aqui me refiro à visão evangélica tradicional sobre Paulo, e não ao personagem Sha’ul.

O que fica claro, portanto, é que o Messias de tais pessoas não é Yeshua, mas sim Paulo!

Porque a fé deles se sustenta ou cai com base em “Paulo”. É em “Paulo” e não em Yeshua que encontramos a verdade sobre a aliança de Elohim. Mesmo não sendo isso na teoria, na prática é de “Paulo”, e não de Yeshua, que se afirma então: “Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amen.” (Ruhomayah/Romanos 11:36)

Sim, porque por essa leitura é de “Paulo” que procede todo entendimento sobre a verdade de toda a Bíblia. É por meio de “Paulo” que se tem o verdadeiro entendimento sobre Yeshua – mais até do que dos emissários que conviveram com Yeshua, pois esses nunca defenderam a abolição da Torá. É para “Paulo” que se pratica a transgressão à Torá, pois Yeshua disse: “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama.” (Yochanan/João 14:21)

Logo, não seria mais honesto se tais pessoas parassem de fingir que sua fé é baseada em Yeshua, e completassem a frase de Ruhomayah (Romanos) dizendo: Glórias a “Paulo”? Aliás, o mais adequado seria chamar tal fé de Paulinismo. Afinal, ela se sustenta ou cai com base no “Paulo” evangélico. Até Yeshua não é o Yeshua que caminhou sobre a terra, mas sim o Yeshua que é autorizado e sancionado por quem? “Paulo”!

Que diremos, pois? Que Sha’ul (Paulo) não é inspirado? Elohim proíba, querido leitor! Jogar fora Sha’ul (Paulo) seria um erro tão grosseiro quanto o de jogar fora a Torá porque a B’rit Chadashá (Segundo Testamento) faz críticas ao uso distorcido da Torá. Não caiamos nesse erro.

Agora, é preciso entender que embora as cartas de Sha’ul (Paulo) sejam inspiradas e proveitosas para o nosso desenvolvimento na verdade, elas não são o cerne da nossa fé. O cerne da nossa fé sempre foi, e sempre será Yeshua. Não podemos substituir Yeshua pelo falso messias “Paulo” do movimento gospel – ou deveríamos dizer, “gospaulo”?

IV – A Verdade sobre Sha’ul (Paulo)

Sha’ul (Paulo) não é leitura fácil, de modo que sequer se destina a iniciantes. A exemplo de outras obras – como Guilyana (Apocalipse) ou Yechezkel (Ezequiel), por exemplo – tais leituras não são o básico da fé. São leituras para pessoas que já atingiram certa maturidade. E a prova de que as cartas de Sha’ul (Paulo) se encaixam nessa categoria nos foi dada por Kefa (Pedro), que diz:

“E considerai a longanimidade da Ruach YHWH como salvação, assim como também nosso amado irmão Sha’ul vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada. E também em todas as suas cartas ele fala acerca dessas coisas, algumas das quais são de difícil entendimento. Tais coisas, aqueles que não têm instrução nem fundação distorcem, como o fazem com o restante das Escrituras, para sua própria perdição.” (Kefa Beit/2 Pedro 3:15-16)

É o próprio Kefa (Pedro), homem que andou com Yeshua e que foi autor inspirado pela Ruach para escrever texto de Escritura, quem nos afirma que um iniciante que se apega a Sha’ul (Paulo) assina a sentença de sua própria perdição.

Como podemos supor, querido leitor, que Sha’ul (Paulo) seja a base da fé? Será que não percebem a gravidade do problema de tentar usar os escritos de Sha’ul (Paulo) como base para entender todas as coisas? Os escritos de Sha’ul (Paulo) não foram feitos para isso. Eles nos foram dados para ajudar a combater os excessos, os extremos e os desvios que ocorrem nas congregações. Nunca, jamais, deveriam ser usados como fonte para entender uma coisa tão básica como a instrução do cumprimento da Torá! Para isso temos, por exemplo, as palavras de Yeshua – e o ensino gradual das Escrituras no Shabat – conforme sugerido pelos próprios emissários em At. 15:20-21 para amadurecimento após o básico.

Além disso, as cartas de Sha’ul (Paulo) foram escritas para situações específicas, para pessoas específicas, e frequentemente em resposta a consultas e relatos feitos por carta das congregações para o próprio Sha’ul (Paulo). Nós não temos acesso a esse contexto, infelizmente. Seja porque se perderam acidentalmente, ou porque isso foi “acidentalmente” conveniente para que Roma montasse sua teologia. Não temos como saber.

E se não temos acesso a tal contexto, e se os textos são difíceis, então é ingênuo supor que exista uma única forma de leitura de Sha’ul (Paulo). Nem tenho a pretensão de pedir ao leitor que confie em NOSSA leitura de Sha’ul (Paulo). Tome como exemplo o próprio movimento evangélico, que reconhece isso ao publicar obras como o Novo Testamento Judaico, de David Stern (publicado por editora evangélica). Obra essa que nos traz uma leitura de Sha’ul (Paulo) muito diferente da convencional.

V – Errando na Base

Imagine, querido leitor, o perigo de se basear TODO o entendimento de seu relacionamento com Elohim, de medir o que “serve” e “não serve” para ser feito daquilo que Elohim deixou como mandamento para nós, em cartas que não foram feitas para principiantes, sobre as quais temos pouca ou quase nenhuma informação contextual, e que podem ser lidas de diversas formas?

A base de nossa fé está em Yeshua ou “Paulo”? Para responder com honestidade a essa leitura e descobrir quem está na posição de Messias de facto, pense numa coisa: Se as cartas de Sha’ul (Paulo) não existissem, a sua fé seria diferente? Se a resposta for afirmativa, será que o Messias, o cerne da sua fé, é mesmo Yeshua? Ou é esse personagem “Paulo” que sequer é a única leitura que se extrai de suas cartas?

“E surgirão muitos falsos profetas, e enganarão a muitos. E, por se multiplicar a anomia, o amor de muitos esfriará.” (Matitiyahu/Mateus 24:11-12)

Nem pedirei ao leitor para ir no aramaico ou no hebraico. Tomemos o próprio grego. Anomia é formada pelo prefixo “a”, que significa negação, e pela raíz “nomos”, geralmente traduzida como “lei”. Logo, temos que as palavras de Yeshua dizem que os falsos profetas levarão as pessoas à negação da Torá de YHWH!

Não é muito mais seguro, querido leitor, basear sua fé em Yeshua? E Ele disse que não veio abolir a Torá, condenou quem ensinava tal coisa, e ainda nos alerta contra os falsos profetas que levariam o povo a se desviar da Torá!

VI – Existe Alternativa

Não podemos dizer que Yeshua não nos advertiu contra “Paulo”. Não contra o Sha’ul (Paulo) que O serviu, mas contra essa leitura distorcida e abominável que se faz dele, para a perdição.

Aliás, algumas passagens de Sha’ul (Paulo) também costumam ser ignoradas, tais como:

“Que diremos pois? É a Torá pecado? De modo nenhum…” (Ruhomayah/Romanos 7:7)

“E assim a Torá é santa, e o mandamento santo, justo e bom.” (Ruhomayah/Romanos 7:12)

“Digo eu isto segundo os homens? Ou não diz a Torá também o mesmo? Porque na Torá de Moshe está escrito: Não atarás a boca ao boi que trilha o grão. Porventura tem Elohim cuidado dos bois?” (Curintayah Alef/1 Coríntios 9:8-9)

“Sabemos, porém, que a Torá é boa, se alguém dela usa legitimamente.” (Timoteus Alef/1 Timóteo 1:8)

A Torá não é pecado. A Torá é santa. A Torá é justa. A Torá é boa. A Torá não vem de homens, mas de Elohim. Sha’ul (Paulo) não é contra o uso da Torá, e sim contra o mau uso da Torá – coisa que Yeshua (a base da verdade) também afirmou ser contra, e ainda explicou a quê se refere.

Mas para os paulinistas, essas contradições não importam. Sha’ul (Paulo) é ignorado onde lhes convém, porque a da Torá só lhes interessa o dízimo – e não sem ser também esse último tirado de seu contexto.

Mas estamos aqui para te dizer: É possível ler Sha’ul (Paulo) de modo a harmonizá-lo com todas as Escrituras – sem fazer dele uma abominação, um opositor à Torá de YHWH. Pois alguém que se opõe à Torá de YHWH é maldito, e não um instrutor em quem devemos nos apoiar.

Sha’ul (Paulo) só pode ser compreendido se ele não for tomado por falso messias, mas sim se ele for compreendido como servo de Yeshua, o autor da Torá.

Mas não caia o leitor no mesmo erro de ser um “cruzado da verdade absoluta”, enfiando o dedo em riste e condenando a todos ao fogo eterno. Pois tal coisa é ranço das estruturas eclesiásticas, e deve ser eliminado de nosso meio, e não incentivado.

Tenhamos o mesmo amor, a mesma perseverança (inclusive de suportar calúnias, difamações e violência) que Yeshua, nosso Messias, nos ensinou com seu próprio exemplo. Sem amor – esse amor de Yeshua – como diz Sha’ul, o verdadeiro, nada seremos.

Este artigo é de propriedade do Grupo Torah Viva (www.torahviva.org) e é protegido pela Digiprove, em conformidade com as leis de direitos autorais. É permitida a cópia, reprodução ou impressão desde que o material seja preservado na íntegra (sem alterações ou inserções no texto e incluindo esta mensagem) e de que a fonte seja citada, com link para o artigo original.

Leia também
Diretas 7
Sobre a não-abolição da Lei

Nenhum comentário: