Publicação fixa: Argumentos lógicos X tratados teológicos

Meus textos questionando o sistema religioso e as mentiras do cristianismo são sempre com argumentos de raciocínio lógico, porque para mim vale o que está escrito sem interpretações humanas, sem oráculos para traduzir o texto... Continue lendo.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Minha trajetória de desconstrução

Uma nova amiga me pediu que falasse sobre nosso novo estilo de vida. Gostei do exercício e editei a resposta para publicar no blog, porque achei que explica o nosso momento desconstrução.

“Shalom,

Primeiro quero agradecer, porque o seu recado me permitiu um exercício de reflexão e avaliação de tudo que temos vivido nesses últimos anos.

Bem, nossa história é longa, mas vou tentar resumir. Nascemos e crescemos em uma igreja tradicional e nossa formação é toda tradicional. Mas, há seis anos, no final de 2002, eu tive uma experiência que mudou minha vida para sempre. Estava com depressão e o Espírito Santo me encaminhou para o ministério de libertação. Fui curada da depressão e de muitas outras doenças físicas, emocionais e espirituais. Então mergulhei nesse assunto, que acabou resultando no meu livro, Libertação é confissão de pecados, lançado pela Danprewan.

Ficar na igreja tradicional foi impossível, porque eles não aceitam libertação. Até fomos para uma congregação da mesma linha, que estava começando a caminhar nessa visão. Porém, além de ser longe de casa, nós já estávamos em outros processos de desconstrução que o Eterno estava nos levando, e eles não estavam. Então ficamos um tempo ajudando uma comunidade neo-pentecostal perto de casa, mas não como membros.

Libertação foi apenas o primeiro passo. Eu achei que aquilo era tudo, mas o Eterno foi nos levando a tantas outras revelações. Eu nunca imaginei que isso tudo iria acontecer com a gente.

O processo atual começou no início de 2008, quando li o livro Igreja orgânica, logo depois fiz um curso sobre Evangelho do Reino e depois li o livro Cristianismo pagão. Isso aconteceu quase tudo junto, em três ou quatro meses. Foi uma pancada na cabeça atrás da outra.

Tive respostas aos meus questionamentos mais profundos, e descobri que não estava maluca, não tinha problemas de relacionamento (como os pastores gostam de afirmar sobre os revolucionários) e que não era a única insatisfeita. Descobri que havia um movimento no mundo todo, de pessoas saindo do sistema para manterem sua fé. Descobri que a insatisfação que eu tinha com as igrejas locais não era porque eu era crítica ou desajustada, e que essa insatisfação na verdade estava sendo gerada pelo Espírito Santo. Descobri que realmente havia algo errado com o sistema e que muitas pessoas estavam vivendo a volta às raízes bíblico-judaicas e vivendo em comunidades pequenas, praticando a Torah, a comunhão, o partir do pão, em oração, simples, sem religiosidade, sem templos milionários...

Não foi muito fácil sair do sistema, mas não havia outro jeito para nós. Este caminho é um caminho sem volta, ou seguimos o que o Eterno está nos mostrando, ou ficamos trocando uma jaula pela outra e eternamente insatisfeitos. E nós queremos viver o que ele tem nos dado, o novo dele a cada dia, não queremos rejeitar nada.

Aconteceu também que outras pessoas que caminhavam conosco estavam vivendo o mesmo momento, e quando começamos a compartilhar essas coisas, entendemos que todos estávamos vivendo os mesmos conflitos, as mesmas angústias, mas cada um no seu canto, se achando o mais problemático do mundo. E quando descobrimos que não estávamos sozinhos, começamos a nos reunir para falar sobre essas coisas novas. E o Espírito Santo começou a trazer textos e experiências de forma sobrenatural para nós. E fomos recebendo confirmação de que estávamos no caminho certo.

Então começamos a fazer teshuvah. Além de estarmos aprendendo a guardar o shabat, também estamos aprendendo a cumprir a Torah (Pentateuco), que para nós também não foi abolida. Estamos aprendendo, porque não temos realmente uma referência de como fazer isso. Temos buscado ajuda com os yahudim (judeus) e com os judeus messiânicos, mas não queremos idolatria à Lei, – como o Messias tanto condenou –, queremos apenas cumprir a Torah. Não queremos seguir regras humanas e cheias de religiosidade, como o Talmude faz. Buscamos o equilíbrio.

Aos poucos temos mudado nossos hábitos. Não comemos carne de porco, frutos do mar, peixe sem escamas, nem misturamos carne com leite e derivados. Os outros animais da lista já não comíamos mesmo. E aprendi com um yahudim a tirar o sangue da carne comum comprada no mercado, porque carne sem sangue desde o abate é difícil de encontrar.

Seguimos o calendário judaico e não o gregoriano. Celebramos as festas bíblicas e não as pagãs, como Natal, e nosso ano novo é o ano novo judaico e não 31 de dezembro.

E o shabat tem sido um aprendizado progressivo. Estamos nos disciplinando para não fazer as coisas que todo mundo sempre reservou para o sábado, como fazer faxina, ir ao mercado etc. Aqui em casa – isso já há muitos anos, não só agora –, eu não lavo roupas, não vou ao mercado e não faço faxina aos sábados. Só se for emergência. Temos procurado descansar, visitar os parentes. Por isso não marcamos o discipulado no sábado, porque precisamos aprender a guardar o shabat e não trocar seis por meia-dúzia, enchendo o sábado de atividades eclesiásticas, como fazíamos aos domingos, e não ter descanso nenhum. Também entendemos que shabat deve ser em família. Temos procurado fortalecer o conceito da igreja-família, em que a família é nossa primeira igreja. Na nossa visão não deveríamos precisar de uma igreja institucional para ensinar a Bíblia aos nossos filhos, isso é papel dos pais.

Alguns estão estudando hebraico. E estamos no processo de estudo e pesquisa sobre os nomes do Eterno e do Messias. Não usamos mais os nomes que entendemos ser de origem pagã (Deus, Jesus), mas como não temos certeza absoluta ainda dos nomes originais, porque há tanta polêmica e tantas opiniões diferentes, usamos Eterno e Messias, até que tenhamos a plena convicção e confirmação do Espírito Santo de quais são os nomes verdadeiros. Entendemos que nome próprio não se traduz, então, não queremos usar as traduções, queremos os nomes originais.

O que nos levou a reunir como comunidade foi mais porque as igrejas que existem se fecham em apenas uma visão. Uma descobre libertação e fica só naquilo. Outra começa no processo de restauração das raízes bíblico-judaicas, mas pára no meio do processo e fica só naquilo. Nós queremos o todo, não queremos só uma parte das revelações. Queremos libertação, restauração das raízes, discipulado e tudo mais que o Eterno nos trouxer. E sabemos que há mais, muito mais. E queremos mais dele. E não encontramos uma comunidade que seja assim. Quando aceitam uma coisa, rejeitam a outra. Enfim, nós queremos tudo, não queremos rejeitar nada que o Pai tem para nós.

Claro que somos considerados malucos, hereges etc etc. Nossos familiares, principalmente os cristãos, não entendem, alguns nem falam mais conosco. Alguns amigos também se afastaram de nós. Não porque queremos que eles vivam o que nós praticamos, mas porque eles não aceitam o nosso posicionamento e querem nos convencer do contrário. O que tem acontecido é que eles nos criticam simplesmente por dizermos não a alguma coisa. Como aconteceu em um churrasco na casa de um parente e ele me ofereceu linguiça, eu disse 'não, obrigada'. E ele perguntou se a minha religião não permitia. Eu só disse que a Bíblia proibia. E como aconteceu no dia 31 de dezembro, quando uma pessoa me telefonou e perguntou onde eu iria comemorar o réveillon. Bem, eu só respondi a pergunta dela e disse que não comemorava mais o Ano Novo gregoriano. Aí tive que ouvir um sermão e nunca mais ela quis falar comigo. E eu só respondi a pergunta, não falei mais nada. E várias pessoas me fazem um sermão e me acusam de estar seguindo 'seita', quando digo que agora acredito que não vou morar no céu, que vou reinar na Terra. Sempre peço que citem pelo menos um versículo, só um versículo, que diga claramente, com todas as letras, que os salvos vão morar no céu, mas não tenho resposta.

Nós não obrigamos ninguém a fazer o que fazemos. Mas queremos ser respeitados na nossa posição. Se a pessoa quer comer carne de porco, que o faça, isso é problema dela, mas não pode querer que eu coma e deveria respeitar o meu direito de dizer não. Assim como todas as outras coisas. Não sei porque se ofendem tanto com o fato de querermos obedecer e cumprir a Lei. Para nós a Lei não foi abolida.

Mas não trocamos o que temos vivido por nada deste mundo. Eu só posso dizer que nunca fui tão feliz, nunca me senti tão perto do Eterno e a cada dia ele me confirma de que estou no caminho certo, principalmente pelas perseguições que temos sofrido. Entendi que evangelho sem perseguição tem alguma coisa errada.”

Segue em Minha trajetória de desconstrução 2

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Minha trajetória de desconstrução 2

2 comentários:

psipaulo disse...

Quero te parabenizar pela capacidade de romper paradigmas. Eles sempre precisam ser rompidos, já que somos tão mutáveis. Só o Senhor não muda. E isso é suficiente para entendermos o quanto somos tão diferentes dEle, embora sejamos seus filhos.
Parabéns pela inteligência, pela formação e pelas convicções. "Não concordo com uma só palavra do que você diz, mas vou morrer lutando pelo seu direito de se expressar"(Voltaire).
Mas eu concordo com algumas sim. E isso é a beleza da nossa vida.
Mas já que ninguém muda totalmente, sei que você continua sendo aquela menina simpática, amiga e carinhosa. Sempre vou trazer nossa amizade em meu coração.
Um grande abraço para você e o Alexandre.
Paulo Cesar Pereira

Luiza Pinheiro disse...

Fiquei feliz ao ler seu relato não porque concordo com tudo ou o contrário, essa experiência com o Eterno é sua e ninguém pode tirá-la. Vejo isso como santificação, e todos nós cristãos estamos, ou pelo menos deveríamos estar, no mesmo processo. Em cada um Ele trabalha de uma forma, o importante é conhecermos e prosseguirmos em conhecer o Senhor como nos exorta a Bíblia em Oséias, daí aprenderemos a Sua vontade.
Bjk
Luiza