Publicação fixa: Argumentos lógicos X tratados teológicos

Meus textos questionando o sistema religioso e as mentiras do cristianismo são sempre com argumentos de raciocínio lógico, porque para mim vale o que está escrito sem interpretações humanas, sem oráculos para traduzir o texto... Continue lendo.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Perdão e confiança

"Mesmo que você não goste de alguém, você precisa amar esta pessoa. Realmente existem muitas pessoas de difícil convivência, as quais definitivamente não gostamos, mas podemos e devemos amá-los". Marcos de Souza Borges (Coty)em A Face oculta do amor


Aprendi uma grande lição sobre perdão e restauração da confiança e gostaria de compartilhar. Não confiar em alguém não significa que não houve perdão. Perdoar um ladrão não significa que se deve confiar nele ao ponto de deixar sua carteira perto dele e sair da sala, se ele não mudou, se não se arrependeu. Perdoar uma pessoa que te molestou quando criança não significa que você vai deixar seu filho pequeno sozinho com um pedófilo, principalmente se ele também não demonstra mudança em sua vida.

Conheço uma história que explica bem esse processo. Uma criança foi molestada por um adulto. Quando essa criança cresceu teve noção do que isso significou espiritualmente na sua vida e decidiu liberar perdão para ele. Um tempo depois soube que estavam querendo trazer uma criança para morar na casa daquele homem, para ele cuidar, e ela disse que não concordava com isso. Sim, houve perdão. Mas para que a confiança seja restaurada é preciso haver mudança de comportamento.

Não perdoamos alguém porque esse alguém mudou, perdoamos porque temos que perdoar. Mas confiamos novamente porque a pessoa mudou. Se não houve mudança, não há como confiar. E confiança leva tempo para ser conquistada novamente.

Se alguém adultera e o cônjuge perdoa, vai levar um tempo para que a pessoa prove que mudou e para que o cônjuge confie nela inteiramente de novo. Isso não quer dizer que não perdoou.

E se não houve arrependimento, se liberamos perdão apenas diante do Eterno, não há como confiar novamente na pessoa. Não houve um pedido de perdão. Há coisas que nós perdoamos espiritualmente, mas a comunhão com a pessoa só pode ser refeita se houver arrependimento sincero e mudança de comportamento. Isso não é um falso perdão com separação, mas sim uma quebra de confiança. Para se resgatar a confiança é necessário que a pessoa que pecou peça perdão e mostre que não vai fazer mais. Como já citei, Lucas diz que devemos perdoar se houver arrependimento: "Tomem cuidado. 'Se o seu irmão pecar, repreenda-o e, se ele se arrepender, perdoe-lhe. Se pecar contra você sete vezes no dia, e sete vezes voltar a você e disser: 'Estou arrependido', perdoe-lhe'." Lucas17.3,4.

Perdão também não significa passar a mão por cima e fingir que a pessoa não errou. Dizer a verdade, admitir que a pessoa fez algo errado, não quer dizer que não houve perdão. Se a pessoa roubou, é preciso assumir que ela roubou, isso é um fato, não há como mudar. Podemos perdoar, mas não apagar o que ela fez.

“O perdão não quer dizer fechar os olhos para os comportamentos abusivos ou insensatos, nem confiar em quem não é digno de confiança. Perdoar é algo que você faz para você mesmo ter paz; o perdão dissolve a raiva, como se ele fosse um antiácido. É uma forma de olhar para os outros como pessoas incapazes de amar e de apreciar você da forma como precisa.Você perdoa a pessoa, não o ato.” Kay Talbot, citado por Doris Wagner, em Como ministrar libertação. Vida. [Grifo meu]

"Amigo, eu não estou dizendo que isso seja fácil, mas Cristo claramente diz que é absolutamente necessário. Muitos cristãos não têm poder porque ignoram essa ordem fundamental. Gaste tempo considerando aqueles a quem você possa ter ofendido. Ocorrem tremendos milagres nas famílias quando alguém se humilha e pede perdão por algo de errado que tenha feito. Avivamentos poderosos ocorrem em igrejas inteiras quando um ou dois irmãos realmente acertam suas diferenças. Nós precisamos entender que as picuinhas entre cristãos podem facilmente apagar o Espírito de Deus em toda a igreja! Amigo, o Espírito Santo é muito sensível e você precisa levar seus relacionamentos a sério. E lembre-se, o perdão é uma escolha, não um sentimento. Se você escolher perdoar, Deus mudará seus sentimentos." Gregory Frizzell, em Como desenvolver uma vida poderosa de oração.

P.S.: Quando falo sobre não perdoar muita gente me olha com cara de espanto e outras até discordam e tentam "pregar" para mim, principalmente citando textos contrários à Torah. Até entendo que aprenderam errado sobre o conceito de perdão e ficam repetindo o que seus líderes falam na lavagem cerebral dominical. Mas não perdoar, ou não querer assunto, ou não querer comunhão, ou não querer conviver com a pessoa que foi cruel, feriu, agrediu, e NÃO se arrependeu, NÃO reconheceu o erro e NÃO pediu perdão, NÃO significa guardar mágoa, rancor, amargura no coração. Não mesmo. Posso perfeitamente, não querer assunto com quem me feriu, e ainda assim não ter ódio nem mágoa nem amargura, e tenho o direito de não querer conviver para não me violentar e para não dar chance de ser ferida de novo. O que sinto é decepção, é impotência diante da injustiça, é tristeza pela pessoa não se arrepender, por ver tanta dureza de coração, apesar de tantas vezes ter sido confrontada. E todos os sentimentos eu coloco diante do Eterno em oração, limpo meu coração diante dele, confesso todo desejo de justiça com as próprias mãos, confesso todo desejo mau do meu coração, confesso todo pensamento de violência, peço perdão pelas palavras de maldição que eu possa ter dito na hora do sangue quente, libero perdão para a pessoa em oração e peço que o Eterno perdoe a pessoa. E não oro pedindo justiça, oro pedindo arrependimento para a pessoa que me feriu, e pedindo misericórdia para mim. Enfim, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Não fico alimentando mágoa, mas também não vou fingir que nada aconteceu e "esquecer" o que a pessoa fez e restaurar comunhão com quem não pede perdão.


Continua em Perdoar não é tão simples como dizem

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